Esse vai ser um post longo; peço paciência pois aqui trata-se de um assunto sagrado.
Embora a cerveja não fosse o principal motivo da minha viagem, pelo menos isso foi o que eu disse pra minha esposa Marcia, eu tinha em mente a busca pelo Santo Graal das cervejas, a Westvleteren 12!
Os monges da abadia de Sint Sixtus produzem, em pequena quantidade, as maravilhosas cervejas trapistas Westvleteren 6 (ou Blond), Westvleteren 8 e Westvleteren 12 (10,9% ABV).
Em Bruxelas, seguindo instruções que só são reveladas aos verdadeiros amantes da boa cerveja, num beco escondido entrei num pub, também escondido, que mais parecia um templo, e nada mais adequado para um peregrino em busca da sua própria Meca.
Não foi preciso olhar no menu, pedi e me foi dado (por exorbitantes 10 euros), o Maná servido no Santo Graal (eu sei que aqui eu estou misturando os testamentos, mas não me importo porque eu sou ateu e
achei que a analogia era boa). A procurada mas dificilmente encontrada Westvleteren 12, votada a melhor cerveja na terra (e provavelmente no universo) nos últimos anos, me foi servida como que por uma virgem vestal (pronto, agora estou misturando religiões) servindo o néctar só permitido aos deuses. O mundo se fez mais bonito, eu era uma pessoa melhorada, eu exalava amor (por sorte a Marcia estava por perto senão minha exalação poderia atingir a bar-woman/virgem-vestal que era bem feiosa), eu me sentia completo, saciado.
A minha experiência no "templo" de Bruxelas tinha sido fantástica mas, após alguns dias aquela sensação de estar saciado mudou, faltava alguma coisa. Eu sabia ser muito difícil ir até a fonte para realmente completar minha peregrinação e busquei conforto tomando um monte de outras trapistas deliciosas.
Quando estava em Brugge e percebi que não havia neve ou gelo nas estradas, recebi um aviso, que não vinha dos céus mas sim do funcionário da AVIS dizendo que o carro que aluguei por um dia estava pronto. E parti para a peregrinação, mesmo sem saber o que encontraria, mesmo correndo o risco de apenas tirar uma foto da abadia.
Passando a pequena cidade de Westvleteren, no sudoeste da Bélgica, quase fronteira com a França, ainda roda-se uns 4 kilometros por um emaranhado de estradinhas. Como um peregrino iluminado eu fui conduzido pelos avisos e indicações que vinham do alto (do alto das placas).
Até que se chega, no meio do nada, à abadia de Sint Sixtus (http://www.sintsixtus.be/eng). Sem sucesso eu tentava me convencer que tudo estaria bem se eu batesse com o nariz na porta mas, eu queria mais daquele Maná.
Não foi preciso nenhuma senha, as portas se abriram no café da abadia chamado In de Vrede (que significa Paz) e a paz se fez (apenas quando aquela lerda da garçonete me trouxe a primeira cerveja). Tomei uma de cada das Westvleterens: 6, 8 e 12 e comi um sandwich feito com o queijo também produzido na abadia.
Este é o único lugar no mundo onde pode-se tomar as Westvleterens "on tap". Naquelas alturas pensamentos estranhos, tais como tornar-me um abade, passaram pela minha cabeça.
Depoimentos de outros que fizeram a peregrinação: http://beeradvocate.com/beer/profile/2169
Tomar a Westvleteren "on tap", na fonte, é como nenhuma outra coisa jamais sentida, é como nenhum outro sabor jamais sentido... então nem vou tentar descrever. O amante da boa cerveja deve fazer a peregrinação e descobrir por si próprio.
Por algum milagre, e uma abadia é um lugar adequado para um milagre acontecer, havia garrafas à venda! Comprei 8 (2 caixas cada uma contendo duas 6, uma 8, uma 12 e 1 copo).
No fim do dia, quando devolvi o carro, acabei andando com minha backpack e 2 caixas de cervejas nas mãos. As pessoas olhavam para as caixas viam o nome Westvleteren e os olhos delas brilhavam, no trem um casal ficou louco e quis comprar uma caixa que obviamente não lhes foi vendida.
As 8 garrafas foram devidamente degustadas entre a passagem do ano e durante o dia 1, eu me senti mais próximo do paraíso, o que comprova que minha peregrinação foi um sucesso. Guardei as tampinhas como prova. No caso da minha morte peço que elas sejam apresentadas ao Vaticano no processo da minha beatificação, serei o primeiro santo ateu e, quando no paraíso, procurarei a companhia de Ninkasi e Ceres, antigas deusas da cerveja.
Resumo da minha viagem pela Bélgica/Holanda:
2 países
17 cidades
22 dias
108 cervejas (sendo 64 diferentes) (de 39 cervejarias)
1 fogo
0 ressacas
0 dores de cabeça (cerveja boa não tem preservativos ou outros produtos químicos)
(farei outros posts sobre alguns lugares e cervejas especiais que encontrei)
Acabei de descobrir que existe um pub em New York que serve as Westvleteren 8 e 12, em garrafas, por U$60 !!!
ResponderExcluirEsse é com certeza o melhor post (em todos os sentidos - na forma e no conteúdo) desse blog!!!
ResponderExcluirshow...
ResponderExcluirBela viagem e belo texto
ResponderExcluirConcordo com o Mauricião, se não o melhor, um dos melhores!
ResponderExcluirRealmente a viagem dos sonhos dos cervejólogos
ResponderExcluirCom relação ao preço, nas minhas buscas em 2010 cheguei a encontrar por R$ 150,00 (fora o frete)... Por conta disso, o tal néctar continua um mistério para mim....
ResponderExcluirSó pra não perder o costume, no próximo sábado estarei indo ao BelgianFest aqui em Seattle(Festival de cervejas estilo belga)
ResponderExcluirhttp://www.washingtonbeer.com/festival_belgian.htm
Provavelmente outro fogo.
Vou levar minhas tampinhas da Westevleteren só pra contar vantagem.
Conforme previsto uns comentários acima, observando nas estatísticas, esse post bateu todos os recordes o blog!!!
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